quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Jornalista conta como é viver sob ameaças

De volta ao Brasil, Mauri König se afasta da cobertura policial e fala em “terror psicológico” após ameaças

por Jacqueline Patrocinio

Depois de passar dois meses no Peru, o jornalista Mauri König retorna ao trabalho na Gazeta do Povo, mas vai se manter afastado da cobertura policial por período ainda indeterminado. O exílio do repórter foi forçado por questões de segurança pessoal. Ele passou a receber ameaças de morte após coordenar a série de matérias "Polícia Fora da Lei", que denunciou irregularidades na atuação da Polícia Civil.

 Em dezembro, telefonemas para a redação do jornal, em Curitiba, informaram que havia um plano para que a casa do profissional fosse metralhada. Fora do país, ele chegou a dizer que o governo foi conivente com a situação. Em entrevista ao Comunique-se, König relata como foi o período em que viveu com sua mulher e filho sob a proteção de seguranças, o tempo que ficou fora do Brasil e como é voltar ao trabalho sob o clima de “terror psicológico” que vive.

Confira a íntegra da entrevista:

Saída e retorno ao Brasil

Quando decidiu que sair do Brasil era o melhor a se fazer?

Foi uma decisão conjunta. Quem acabou me convencendo a deixar o país foi o Committee to Protect Journalists (CPJ). Segui a recomendação deles, que já têm experiência em acompanhar jornalistas que estejam sofrendo ameaças em alguns países. Acabei ficando quase dois meses no Peru com o apoio da Gazeta do Povo, que colaborou com parte dos custos, do CPJ e do Instituto Prensa y Sociedad (IPS), sediado no Peru.

Com a proteção de entidades internacionais, por que voltou para Curitiba?

Houve a necessidade de voltar. Antes de sair, entre 17 e 22 de dezembro, fiquei com minha mulher e filho pulando de hotel em hotel, sempre com a proteção de guarda-costas. Durante esse período, eu já tinha colocado minha casa à venda, antes de viajar, porque minha mulher se sentiu muito insegura com a ameaça de que poderiam metralhar nossa residência. Enquanto estávamos fora, ela acabou decidindo mudar de estado. Tivemos que voltar pra organizar toda essa coisa de mudança. E já que estava aqui, resolvi voltar ao trabalho.

Com trabalho reconhecido pelo Prêmio Internacional de Liberdadede
Imprensa, König não se sente seguro no Brasil (Imagem: Arquivo Pessoal)

 Chegou a receber ameaças no Peru?

Não recebi nenhum tipo de ameaça. Tive todo o apoio estrutural e logístico do CPJ e do IPS, a maior dificuldade foi enfrentar o distanciamento familiar.

Apesar de ter voltado, você está com medo de ficar no Brasil?

O problema está centrado no Paraná, como o foco das reportagens eram denúncias na Polícia Civil do estado. De fato, não estou completamente tranquilo no Brasil, porque a gente não sabe o que essas pessoas são capazes de fazer. Fica sempre esse terror psicológico. Você tem que se proteger de um inimigo invisível, que você não sabe como e onde pode atacar. Viver com essa instabilidade de saber que de repente você pode estar sendo seguido, monitorado, é muito difícil.

 Governo conivente

O governo estadual buscou, em algum momento, te auxiliar?

Houve um precedente. Quando publicamos a série em maio de 2012, policiais já tinham usado um blog para fazer ameaças. Fui declarado inimigo público numero um da Polícia Civil do Paraná depois de mostrar a corrupção. Naquele período isso se tornou público. Já houve uma ciência das autoridades de que essas ameaças existiam. Como na internet é muito fácil excluir esse tipo de coisa, a Gazeta do Povo fez uma reprodução das ameaças e registrou em cartório. Não houve nenhuma manifestação por parte do governo. Nada.

 Você chegou a declarar que o governo era conivente com a situação. Você acredita que a polícia deu pouca importância ao caso?

Sobre a ameaça de 17 de dezembro, o Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) abriu uma investigação. Só que ainda não chegou a conclusão nenhuma. Várias pessoas foram ouvidas. Eu já prestei depoimentos. As ameaças partiram de um telefone público, mas não havia nenhuma câmera na via para captar a imagem do autor da ligação.

E a conivência do governo...

Quando digo que houve uma conivência do estado, foi de não ter tomado providência lá no início, em maio, porque os responsáveis eram provavelmente agentes públicos. Como essas pessoas não viram ação nenhuma por parte do governo, se sentiram confortáveis para continuar me ameaçando.

De volta ao trabalho

Pretende mudar sua área de atuação, afastando-se da cobertura de denúncias e investigações?

Por período, que ainda não foi definido, vou trabalhar em uma área que não seja a de segurança pública, estou focando em outros assuntos. O jornalismo permite que você trabalhe em várias áreas diferentes.
 
Neste retorno à redação, você conversou com a chefia sobre precauções?

Decidimos que por um período eu vou me dedicar a outras coberturas. Não é uma decisão unilateral, foi uma decisão conjunta. Além disso, tenho tomado uma série de precauções.

Quais precauções você tem tomado?

Alterei minha rotina, meu horário de expediente, procuro fazer itinerários diversos em diferentes turnos a cada dia. Não frequento alguns lugares que ia antes e deixei de sair com algumas pessoas.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Polícia prende suspeitos de assassinar jornalista esportivo em Goiás

Três homens suspeitos de envolvimento no assassinato do comentarista esportivo Valério Luiz de Oliveira foram presos na última sexta-feira (1). No sábado, o empresário e ex-dirigente do clube Atlético Goianiense Maurício Sampaio também foi preso apontado como o mandante do crime.

Valério Luiz trabalhava na Rádio Jornal 820, de Goiânia, e foi morto com sete tiros, na porta da rádio, no dia 5 de julho do ano passado. Antes de ser assassinado, o comentarista havia recebido ameaças feitas por dirigentes do clube Atlético Goianiense e estava proibido de entrar em suas instalações.

A organização Repórteres Sem Fronteiras está satisfeita com o resultado do trabalho policial: “A detenção de Maurício Sampaio, antigo vice-presidente do Atlético Goianiense, parece confirmar a hipótese de represálias relacionadas com as críticas proferidas na rádio por Valério Luiz contra os dirigentes do clube. Embora respeitando a presunção de inocência, Repórteres sem Fronteiras se congratula por este avanço da investigação", afirmou em nota.

Preso suspeito de ser mandante na morte de radialista Renato Machado

Elói Barcelos de Almeida Lopes, 45 anos, empresário do ramo da construção civil, foi preso no início da noite desta terça-feira (5), no escritório onde trabalha, na Avenida Pelinca, em Campos dos Goytacazes, interior do estado do Rio de Janeiro.O empresário é suspeito de ser o mandante do assassinato do radialista Renato Machado, ocorrido em São João da Barra, no início do mês de janeiro, e foi levado para 134ª Delegacia Legal (DL-Centro) e será conduzido para São João da Barra.
Segundo as investigações, o empresário teria namorado a esposa de Renato quando estiveram separados e não teria se conformado com o fim do romance. Se a suspeita por confirmada e Elói for condenado o crime se configura como passional e não em função do exercício da função de jornalista como havíamos considerado.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Instituto Vladimir Herzog cria movimento de combate à violência contra jornalistas

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Vlado Proteção aos Jornalistas

A Segurança dos Jornalistas é a Segurança de Todos Nós

O Instituto Vladimir Herzog começa o ano de 2013 inaugurando uma nova iniciativa, ao criar um espaço específico para maior engajamento no combate à violência contra os jornalistas e na luta pela sua proteção.

Muito além da segurança pessoal dos jornalistas e de todos os profissionais que trabalham em veículos de comunicação, essa luta visa a fortalecer a instituição da liberdade de expressão, pedra fundamental da democracia; e assegurar o direito de todos os cidadãos ao acesso a informações que lhes permitam formar seus próprios juízos individuais a respeito dos assuntos de interesse público da vida nacional.

De pronto afirmamos vigorosamente que não se pretende, com esta iniciativa, substituir outras organizações que já se dedicam a essa questão, menos ainda ter exclusividade nessa atuação.

Ao contrário, o que desejamos é, cumprindo a vocação e a missão de nosso Instituto, ajudar a sociedade a evitar que outros jornalistas tenham o destino trágico de Vladimir Herzog, ilegalmente detido, torturado e assassinado em 1975 por agentes do governo ditatorial que dominou o Brasil durante 21 anos.

Queremos, por isso, somar nossa voz às de todos aqueles que se dedicam a essa missão, entre eles a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a FENAJ-Federação Nacional de Jornalistas, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, a ABRAJI-Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e outras organizações.

E esse conjunto de vozes precisa fazer-se ouvir de maneira cada vez mais alta, forte e uníssona, pois, segundo o CPJ-Comitê para a Proteção de Jornalistas, que atua em Nova York, pelo menos 67 jornalistas foram assassinados em todo o mundo, em 2012, no exercício da profissão. Quatro deles foram brasileiros e o CPJ afirma que os responsáveis por sua morte continuam impunes.

Segundo a Campanha Emblema para a Imprensa, de Genebra, o número de mortos no mundo e no Brasil foi maior ainda: para essa organização, no ano passado foram assassinados aqui onze jornalistas, quase o dobro de 2011, quando se registraram seis mortes. E, em todo o mundo, 139 jornalistas foram vitimados por morte violenta.

Nossa ação inicial nessa luta é promover a tradução e publicação, pela primeira vez em Português, do Plano de Ação da ONU para a Segurança dos Jornalistas e a Questão da Impunidade, adotado em 13 de Abril de 2012 pelo Conselho dos Principais Executivos da ONU e que se encontra a seguir.

Em Novembro de 2012 realizou-se em Viena a 2ª Reunião Inter-Agências da ONU para a Segurança dos Jornalistas e a Questão da Impunidade, promovida pela UNESCO e co-promovida pelo Escritório do Alto Comissário para os Direitos Humanos (OHCHR), Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC) e Programa da ONU para o Desenvolvimento (UNDP).

O objetivo da reunião foi formular uma estratégia concreta de implementação do Plano, em níveis global e nacional, relacionando mais de 100 áreas de trabalho a ser realizado por órgãos da ONU e grupos da sociedade civil, para garantir a segurança dos jornalistas.

Esse trabalho abrangerá, entre outros aspectos, o auxílio a governos no desenvolvimento de leis sobre segurança e liberdade de expressão, aumento da conscientização dos cidadãos, treinamento em segurança e em segurança eletrônica, fornecimento de assistência médica, mecanismos de reação emergenciais, zonas de conflito, descriminalização da difamação e remuneração dos jornalistas.

Fonte: Instituto Vladimir Herzog

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vídeo do momento do assassinato do jornalista Renato Machado é divulgado


O vídeo de câmeras de segurança que mostra o momento em que o presidente e locutor da Rádio Barra FM, de São João da Barra/RJ, Renato Machado, recebeu os tiros que o mataram foi divulgado e pode ser visto abaixo:


As imagens mostram Renato atravessando a rua em frente de casa, onde estacionara o carro, e chegando ao lado da sua esposa, Danúzia Machado, e uma sobrinha de seis anos. As duas entraram em casa antes de Renato, que logo em seguida foi surpreendido pelo assassino que chegou correndo e efetuou os disparos. O radialista foi morto com quatro tiros na altura do tórax. A sobrinha do casal levou um tiro de raspão no pé.

Segundo a delegada responsável pelas investigações na 145º Delegacia de Polícia de São João da Barra, Madeleine Farias, as linhas de investigações nesse momento são da possibilidade de se tratar de crime político, uma vez que ele militava nessa área, a segunda possibilidade é a questão da desavença, e a última é o crime passional, uma vez que a esposa da vítima teve um relacionamento com um empresário da cidade ano passado no período em que estiveram separados, e segundo relato dos familiares à delegada ela vinha sofrendo ameaças, porque o ex-namorado não se conformou com o término do relacionamento. O empresário foi ouvido na tarde desta quarta-feira (9) e negou a participação no crime, mas afirmou ter ficado triste com o fim do namoro.

A delegada afirmou ainda que o jornalista tinha uma personalidade muito forte, com muitas opiniões políticas, tendo sido inclusive alvo de agressões durante uma sessão da Câmara Municipal de São João da Barra na campanha eleitoral do ano passado. Além disso, a delegada acredita que foi um assassinato por encomenda, que o mandante do crime não foi o executor.

A delegada Madeleine informou que serão verificados todos os veículos que passaram no local na noite do ocorrido, para identificar a linha de investigação e checar todas as informações que o empresário emitiu para a polícia, além de confirmar as teses que ele relatou e rever também as últimas ocorrências que foram registradas na delegacia contra a vítima. As pessoas envolvidas serão intimadas a dar esclarecimentos.  


Mais um jornalista é assassinado no interior do Estado do Rio de Janeiro


Renato Machado, radialista e sócio da Rádio Barra FM, de São João da Barra, município do Norte Fluminense, morreu nesta terça-feira após ser baleado em frente a sua casa, por volta das 22h30, e socorrido no Hospital Ferreira Machado, em Campos, onde não resistiu após sofrer duas paradas cardiorrespiratórias. Chegando a sua casa, do lado da emissora, Renato chegou a fechar o portão, mas o assassino bateu, e a vítima ao atender foi atingida por pelo menos quatro tiros na altura do peito. Na hora do crime, o radialista estava com a mulher e sua afilhada de seis anos, que foi atingida de raspão no pé. Nenhum pertence da vítima foi levado pelos bandidos.

A imagem do circuito externo de monitoramento mostra o momento do crime e pode ajudar a identificar os assassinos. A delegada responsável pelo caso, Madeleine Farias, agendou uma entrevista coletiva às 16 horas de hoje para divulgar o rumo das investigações sobre o homicídio. O prefeito de São João da Barra, Amaro Martins de Souza, mais conhecido como Neco, no qual Renato ajudou na campanha política, disse que solicitou o aumento dos efetivos policiais no município e decretou luto de três dias nas repartições públicas municipais. 

O velório vai acontecer na Rádio Barra FM, onde o radialista apresentava um programa diário. O enterro está previsto para acontecer no fim da tarde desta quarta-feira no cemitério da cidade. O radialista tinha 41 anos e deixa mulher e um filho adolescente. 

A Associação de Imprensa Campista escreveu uma carta lamentando a morte de Renato Machado e cobrando apuração efetiva do caso: 

A Associação de Imprensa Campista lamenta e registra com pesar a morte do radialista Renato Machado, da rádio Barra FM, do município de São João da Barra (RJ). De acordo com informações veiculadas pela imprensa, o profissional foi atingido por vários tiros, na porta da emissora, na noite na terça-feira (08/01/13). 

A AIC cobra das autoridades policiais locais e da Secretaria Estadual de Segurança Pública a investigação rigorosa do caso e manifesta as suas condolências aos familiares, amigos e colegas de trabalho do radialista. 

Além da perda de uma vida, o crime representa um atentado à livre manifestação de opiniões de um comunicador no exercício da sua profissão, o que atenta contra toda a sociedade em seu direito de manter-se informada e de ter canais seguros onde também possa informar e opinar livremente. 

Este caso necessita de apuração e punição exemplares, para que não se consolide este tipo de prática nefasta na região. 

Campos dos Goytacazes, 9 de Janeiro de 2012 
Diretoria da Associação de Imprensa Campista

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Número de jornalistas assassinados no Brasil supera o de países em guerra

O Brasil é o quarto país mais perigoso do mundo para profissionais da imprensa, segundo dados da organização não-governamental Press Emblem Campaign (PEC – Campanha Emblema para a Imprensa), divulgados nesta segunda-feira, 17. Em 2012, 11 jornalistas morreram no país durante o exercício da profissão, número recorde.

A situação brasileira é igual à mexicana e pior que a de Afeganistão, Iraque e Gaza, territórios em guerra. Somando os assassinatos de jornalistas nesses três locais, o número de vítimas chega a oito. Considerando por regiões, o Oriente Médio tem a maior incidência de mortes, onde 44 jornalistas morreram durante o exercício da profissão. A América Latina vem logo atrás, com 35 vítimas. Na Europa, apenas um caso foi registrado.

Neste ano, 139 jornalistas foram mortos durante o trabalho. O índice é 30% superior que o registrado em 2011 (107), principalmente por causa do crescimento do número de óbitos na Síria, Somália e no Brasil. A PEC aponta que a maioria dos casos aconteceu em áreas de conflito, durante distúrbios civis e que poucas investigações foram conduzidas, por desinteresse político, falta de acesso às zonas em briga e inexistência de pulso firme do Estado para que as leis fossem cumpridas.

Dados da PEC mostram que desde janeiro de 2008, o número de jornalistas mortos no mundo alcançou 569, uma média anual de 114 ou dois por dia. Os locais mais perigosos são: Filipinas (62), México (59) e Paquistão (53). Com 22 óbitos registrados, o Brasil ficou em oitavo, na frente de Rússia (20) e Índia (16).

A entidade ressalta que se 2012 foi o ano mais sangrento para jornalistas desde a II Guerra Mundial, o período também foi marcado por esforços internacionais contra a impunidade. A conferência de Doha, Qatar, por exemplo, estabeleceu uma resolução para aumentar a segurança de profissionais da mídia e tem um plano de ação piloto previsto para entrar em vigor a partir de 2013.

Fonte: Comunique-se